ONCE

quinta-feira, 30 de junho de 2011

INUTILIDADES GUARDADAS



Estava lá, naquela gaveta cheia de tralha. Tinha rolha velha, barbante, pilha usada, isqueiro sem pavio. Ah, mas alguém há de precisar um dia de alguma coisa aqui. Foi quando vi a fraca luz da lamparina de querosene. Uma mão começou a vascular daqui e dali até que nos pegou, nos colocou lado a lado e mediu, mais com a intuição do que com a régua. Saímos da gaveta e fomos para a máquina barulhenta. Encaixou-nos junto do eixo e rodou a chave. Apertou o quanto deu. Já era noite e a cada quilômetro parava para nos averiguar, só com o toque do dedo enluvado.
Chegou onde precisava e achou a quem nós substituímos bravamente. No dia seguinte rumou para casa carregando nos "guardados" da mochila uma porca velha, sem rosca já, e um miolo de rolamento. Hoje, ainda guardados com carinho, podemos contar essa história e deixar um dizer que a experiência ensina:
"Quem guarda aquilo que não serve tem sempre o que precisa".

Essas duas peças me ajudaram a andar 45 km, no meio da noite, em direção a Conceição do Mato Dentro onde havia caído o espaçador do eixo traseiro de minha motocicleta, no reparo do pneu feito durante o todo o dia em que fiquei esperando na estrada. Lá conheci um garoto, uma garota e a avó deles que me ofereceu pouso e jantar (arroz, tomate, molho de mamão e três piabas pescadas no ribeirão). Hospitalidade e calor humano que só se encontra na simplicidade. Nunca vou esquecer daquela gente, daquela gaveta e da felicidade que senti ao encontrar essas duas peças. Hoje elas não estão engavetadas. Ficam ali na sala, no tacho de cobre (pouca coisa mais arrumado) e contam um pouco das histórias vividas na época da gaveta.
No dia em que me mudar daqui terei que arrumar uma carreta para levar tantos guardados.


sexta-feira, 24 de junho de 2011

MULUNGU (Erythrina verna)


Lá está o Mulungu, desprovido de folhas,
para quê se tem tanta flor vermelha,
acesas quando o sol vem de trás,
e devem "brigar" com o colorido
do bico do tucano, do peito do bem-te-vi.
Que bom ver o Mulungu florido
e ali, mais adiante, um Ipê amarelo,
pois o rosa e o roxo já foram
e o branco nem vi.
Mas corro para ver o Mulungu.
Acalma só de olhar.

JANELA NO ROSÁRIO



Uma janela em Ouro Preto. Uma manhã de inverno, de luz, ... Um sabiá cantando na gameleira e um cheirinho de feijão no fogo de lenha. "Bom dia" disse o dono da barbearia. Um bom dia para sentar e desenhar.


São especiais esses dias de inverno em Ouro Preto

domingo, 19 de junho de 2011

THE STADIUM


This is the stadium of my city. It will receive some rounds of the 2014 FIFA World Cup. I think I couldn't even watch the games from my window but sure I will hear all the crying from the crowd.
Last week I noticed that the stadium was bigger than it ever was. Oh no, the stadium had its same height! Only the trees around it were cut down. I remembered the time people wanted to cut some trees off in the Park of Monza, in Italy, to modify the Race Track for the Formule 1. It was a caos!!! But not here as any park would grow up again in some 40 years or so. I think continuously about the trees that form the park at the University (just bellow the stadium). What a future they have...
At least I didn't hear the sound of those trees falling down. At least not from my window.

VONTADE DE VIVER




Lembro-me bem do dia em que essa raiz foi depositada no gramado da Escola, bem em frente aos ateliês de gravura. Estava totalmente seca. Pouco depois chegou um carregamento de ferro para a obra de ampliação do prédio. Foi tudo empilhado por cima daquele gigantesco tronco com um emaranhado de raízes (isso foi no ano passado, quando resolveram cortar uma boa quantidade de árvores para as obras na Av Antônio Abrão Caran).
Ficou ali, inerte como quando foi arrancada, esperando apenas que caísse um pouco de chuva. Pois é, agora está brotando. Algumas raízes teimosas insistiram no que poderia ser chamado de "vontade de viver" e acharam um jeitinho de dar vida novamente àquele monumento. Até que outra obra ponha fim a essa nova vida.


"COM PÉ COM CABEÇA"

"... Se faltar-nos um respiro há espaço para mais uma súplica, uma nota de rodapé ao fim da página. Caminhemos contra o tempo, oremos juntos aquela oração".

Morgan da Motta


Uma das mais bem cuidadas exposições que já vi nos últimos tempos. O grupo Coletivo A4, formado por Eduardo Rosa, Fábio Belotte, Renato Lopes, Sérgio Barros e Tales Sabará mostra toda a força e presneça nos trabalhos desenvolvidos em cima de um tema significativo para a existência, os milagres, as promessas, as devoções e os anseios que circulam no interior das salas de ex-votos espalhadas por todo Brasil.
A mostra fica no Espaço Cultural da Cemig - Galeria de Arte (Av Barbacena, em Belo Horizonte) até o dia 7 de julho e vale uma visita com uma observação atenta e meticulosa.

sábado, 18 de junho de 2011

ASSOMBRAÇÃO DOS DESPERTOS



Tendo de optar entre criar uma acusação e criar uma decoração, Jonas teria provavelmente preferido a acusação. Tal como a maioria dos artistas, o que ele queria de fato era balançar os corações lânguidos de seus ouvintes, tocá-los, despertar neles algo vagamente conhecido e, contudo, de todo misterioso, perturbar seus sonhos e assombrar suas horas despertas.
MANGUEL, Alberto. No Bosque do Espelho. Companhia das Letras: São Paulo, 2000, p. 260

O texto acima faz parte da rápida apresentação que fiz na defesa do meu TCC em pintura na Escola de Belas Artes. Em breve publico o trabalho no http://armadillisinaturalis.blogspot.com/, uma visão particular da sociedade hipócrita na qual vivemos.

A ITABERABAÇU


Cheguei finalmente a uma prova interessante da gravura da Serra da Piedade. Preciso ainda acertar alguns pequenos pontos e talvez clarear um pouco a parte superior da imagem. Um fator importante na hora da impressão é a limpeza da chapa. Aí eu consigo definir um pouco mais, ou menos, a intensidade da tinta que será passada para o papel.

O interessante na gravura é que a cada momento surge um "pedido" diferente da chapa (matriz). Já tinha decidido fazer uma nova chapa para a impressão do primeiro plano mas acabei preparando e trabalhando na mesma chapa e o resultado ficou bom, acredito.




Nesse processo, depois de redefinir toda a gravação do segundo plano, apliquei novamente a cera para trabalhar a água forte nos elementos que fazem parte do primeiro plano. Essa cera é aplicada como proteção para a corrosão que vai acontecer somente nas linhas riscadas com a ponta seca.




Em algumas partes utilizei a incisão direta com a ponta sêca. sobreposta à água forte e vice-versa.


A prova foi feita em uma tonalidade de sépia que deve clarear um pouco. Acho que o registro foi muito interessante para o início de uma série que pretendo fazer na gravura, talvez buscando um momento no passado quando vi pela primeira vez uma grande montanha, a Itaberabaçu.


segunda-feira, 13 de junho de 2011

LIXO URBANO



Agora não tem mais sacolinha da mercearia pra colocar o lixo.
Antes também não tinha.
Agora tenho que comprar saco pra colocar o lixo, que é pouco.
Antes não tinha.
O lixeiro vai levar o saco plástico de lixo, mesmo plástico da sacolinha.
Vai pro mesmo buraco.
Não tem jeito. Alguém vai é ficar rico de tanto vender saco, pois o lixo
é muito.
Foi trocar sacolinha por saco.


sábado, 11 de junho de 2011

O VIZINHO NICK

Essa daqui é a gata. Margaret Mee ela chama. Fazem cinco anos e meio que escutei um miado...


"Ops, que foi isso..."

O mundo parecia querer virar de cabeça para baixo. Eu não podia acreditar no que ouvia. Não era daqui de dentro que vinha esse miado. Ah, com certeza foi um miado mas todo mundo da casa tava quietinho (talvez escutando atentamente a um miado). Um gato!!!! Claro, miados vêm de gatos. Mas o que fazer com um miado que está lá fora. Pensei nos dois moribundos que socorri no ano passado. Mas esse miado não tinha nada de moribundo. Era um miado esganiçado, faminto, querendo dizer "Maaanhêêêêêê" ao invés de miau. Bom, não teve outro jeito. Desci com comida e disposição para encarar novamente um miado e encaminhá-lo a alguém que pudesse e quisesse ter um miado em casa. Estava lá mesmo. Era um miado. Uns quatro meses. Não correu. Só miava. Na primeira mão de ração o miado calou. Na segunda foi quietinho para debaixo da escada e dormiu.
Na hora do meu almoço desci para o restaurante vizinho aqui de casa, conversei com o proprietário e arrumei uma casa para o miado. O miado ganhou um nome: Nick. O miado também passou a não ser mais miado. Passou a ser o Nick vizinho. Agora ele tem um pé de jabuticaba para subir. Tem até uma companheira poodle para brincar. Nick agora tem uma casa e gente que gosta dele. Fui visitá-lo agora e bati essa foto (abaixo). Nick agora não é mais um miado qualquer.


sexta-feira, 10 de junho de 2011

O JOGO DO MARRETA

Vale à pena jogar.
Pode roubar, pode trapacear, pode blefar.
Pode ganhar, ou perder. Meio a meio.
Mas no jogo, quem dá as cartas é o Marreta.
A bola da vez é a vermelha. Igual o nariz do Marreta.

É PODA!



"Hoje foi um dia cinzento para mim, não pelo escondido colorido, não pelas cinzas de um vulcão distante. Cinzento pelo som que me incomodou durante alguns minutos na manhã. Nem me deram tempo para correr. E em alguns minutos estava no chão. Me lembro que me colocaram aqui para que outra fosse removida do lugar e ela só iria depois que eu estivesse estabelecida. Aí chegaram os caras com a serra de motor barulhento. Dizem que tem uma "autoridade" no assunto para acompanhar a ação. Sim, eu o vi, paralisando o trânsito dos carros enquanto eu tombava. Foi de uma vez só. Caí estendida de um lado a outro da rua. Me arrastaram e trataram de me reduzir para que eu coubesse dentro do caminhão."


Aconteceu na porta da minha casa, há um ano e pouco. Vieram depois de uns sete meses e colocaram lá uma quaresmeira, com uns dois metros de altura. A outra tinha doze, ou quinze. Foram juntos três filhotes de sabiá. Na porta da casa de um amigo foi diferente: ele saiu pela manhã e quando voltou no final da tarde não havia mais a árvore da sua janela. Não havia mais os micos que lhe vinham pedir banana todos os dias.

Deixo aqui uma dúvida que remeto à conservação do meio ambiente como lugar onde vivemos, não só o "santuário intocável" protegido por leis, mas como também a porta da nossa casa. Recentemente uma fatalidade determinou que uma boa quantidade das árvores de um parque da minha cidade (tombado como patrimônio municipal) fossem sacrificadas pois poderiam causar danos à população que passa por lá. Mas e os danos causados pelos acidentes automobilísticos. Se fossemos olhar pelo mesmo lado, deveriam então eliminar muitos automóveis desse nosso ambiente urbano. Mas não, não o automóvel.
Árvores prejudicam a vida nas grandes cidade. Devem ser podadas (não muito bem podadas - observe atentamente a forma das aleijadas que restaram. As que caíram o fizeram por desequilíbrio) para não atrapalharem as linhas de energia. Devem ser cortadas para não causarem acidentes (até mesmo para não sujarem as calçadas ou atrapalharem a vista).

Daqui um tempo elas estarão grandes, crescidas, estabelecidas. Daqui um tempo outro grupo com serras barulhentas. Daqui um tempo um tempo só de arbustos e gramados na urbe.

Um abraço a todos.
Paulo "Fiote"

PS: novas árvores serão plantadas em torno do estádio de futebol. Daqui um bom número de anos elas darão sombra como as que existiam lá.

Por favor, ao deixar um comentário faça sua identificação. Não se esconda no anonimato urbano.



PIEDADE AINDA QUE TARDIA




Depois de quebrar a cabeça com a história do espelho (ainda explico) resolvi retrabalhar o perfil da Serra. Fiz um novo polimento na chapa, mesmo com resquícios do lavie já existente, e apliquei betume com o aerógrafo. Então fiz uma nova corrosão e cheguei a uma massa mais iniforme que comecei a trabalhar com o brunidor e com a água forte, acentuando alguns detalhes da Serra e também iniciando a construção do primeiro plano. Acho que uma das coisas interessantes da gravura é essa experimentação, pelo menos nessa fase de aprendizado que estou vivendo. Uma coisa já defini sobre o trabalho: vai ter duas chapas para impressão e cores diferentes em cada uma, cuidando para que o primeiro plano fique mais forte que o fundo. Ah, mas isso ainda vai render algumas boas horas de trabalho.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

UM BELO GATO.

Ou Gata, não sei. Talvez se escutar...
http://youtu.be/RJRsWErKCxA

Namastê


segunda-feira, 6 de junho de 2011

Armadillis inaturalis

Prezados Amigos, acabo de abrir um novo endereço, o http://armadillisinaturalis.blogspot.com/, onde colocarei na íntegra o meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Em breve acabo a formatação para esta publicação.
Abraços.
Paulo Fiote


DEAD CAN DANCE



O Dead Can Dance é uma banda Australiana, formada em 1981 por Brendan Perry, Simon Monroe e Paul Erikson. Pouco depois de sua formação Lisa Gerard se juntou ao grupo e sua voz juntamente com a de Brendan, aliadas a um estilo musical muito próprio, marcaram a existência da banda por 17 anos. Os diversos interesses e caminhos levaram os integrantes a buscarem suas carreiras solo.
Lisa Gerard realizou trilhas para filmes como The Insider (http://youtu.be/1aY-PkrVsn0), Gladiator (http://youtu.be/XnPzR1-Dp2c) e Whale Rider(http://youtu.be/yonNVO1vrH0), entre outros.
A discografia do Dead Can Dance é vasta e cada album possui uma característica diferente, seja na composição ou relação temporal. É possível perceber isso não só nas músicas mas também nas capas. Aprecio todos eles mas tenho uma certa preferência pelo Within The Realm of a Dying Sun.



domingo, 5 de junho de 2011

CAMPO FELIZ - PA



Esta foi definida como PA (Prova do Artista) depois de trabalhar mais na matriz e escurecer com água forte o fundo logo atrás do carro, à esquerda na imagem. Agora é partir para a impressão, a tiragem, das cópias. Ao todo serão 10 cópias numeradas de 01/10 a 10/10. Uma delas será enviada ao piloto Nino Vacarella em Palermo na Itália.
A matriz de Campo Feliz serviu como corpo de prova para uma série de recursos utilizados na gravura em metal. Utilizei a maneira negra como ponto de partida e depois trabalhei intensamente com a água forte mas também utilizei recursos da incisão direta com a ponta seca e do lavie com o ácido nítrico, isolamentos com betume ou cera de abelha.
A tinta é Charbonnel (preto + azul) e o papel utilizado é o Hannermühller 300 g e o formato é 14 x 20 cm.


sexta-feira, 3 de junho de 2011

A HISTÓRIA DO "MARRETA"


Esse aí em cima é o "Marreta". Um cara por excelência diferente de todos que já conheci. Sua história é, no mínimo, curiosa. Quando era criança venceu um concurso de briga de bode na sua cidade natal. Desde aquela época ganhou o apelido de "Cabeça Dura" mas foi mesmo trabalhando no circo que ficou conhecido como "Marreta". Nunca foi o Palhaço. Nem o trapezista, nem o equilibrista, nem o domador de leões. Ele é que batia todas as estacas para esticar a lona (vê-se bem o motivo).
Um dos seus passatempos prediletos é colecionar fiapo de bolso, tendo mais de 50.000 tipos diferentes, catalogados e distribuídos em caixas de acordo com a cor, o tipo de tecido e até o intervalo de tempo entre a lavagem da roupa e o momento em que o fiapo foi retirado do bolso.
Mas o "Marreta" vai seguindo seu caminho, seguindo o circo para onde ele for, sentado atrás do picadeiro enquanto o Palhaço diverte o público.

Obs: qualquer semelhança com imagens e fatos da vida real é mera coincidência.