ONCE

sexta-feira, 29 de abril de 2011

UMA GRANDE MONTANHA



Essa é a aquarela que fiz da Serra da Piedade, uma imagem que veio de uma foto que fiz durante uma viagem ao Caraça. A Piedade foi a primeira grande montanha que me lembro de ter visto. Viajava com meu pai até a localidae de José Brandão, ao pé da Serra, hoje um bairro central em Caeté. Numa das curvas da velha BR 262 meu pai parou o Fusca 62 branco Pérola, e me mostrou a montanha. Eu tinha uns tres anos na época e a imagem ficou gravada de forma que nunca esqueço. Até o frio habitual das manhãs de maio posso sentir.
As referências sobre essa aquarela estão postadas aqui no blog e agora começo uma nova investida na Serra.




Em janeiro fiz esse desenho para passar o tempo, observando a Piedade desde o décimo terceiro andar da Santa Casa, em Belo Horizonte. Fiquei imaginando como seria aquela vista sem os prédios que existem hoje. Bom, sem o prédio da Santa Casa também não seria possível eu ter essa vista.
Mas comecei a pensar na paisagem sem a cidade, ou na "Paisagem sem a Paisagem". E aí vai a continuidade, na Serra, ...

quarta-feira, 20 de abril de 2011

UM LUGAR QUE NÃO ERA

Uma dessas tardes que a gente olha pela janela e vê, não somente a tarde, mas o que poderia não existir na tarde, na mesma tarde, no mesmo lugar onde poderia não ser. Tentei ignorar a cidade, os passantes e seus diversos murmúrios. Tentei abstrair qualquer lembrança de que naquele lugar existira um dia, uma cidade. Fechei os olhos e fotografei a tarde. Certo, era um abril que quase já não existe. Fechou.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

CAMPO FELIZ

Uma das mais tradicionais provas do automobilismo mundial foi a Targa Florio, corrida entre 1923 e 1977, percorrendo 72 km de estradas na Sicília, passando por diversas localidades como o vilarejo de Campofelice. O siciliano Nino Vacarella era sempre um dos pilotos mais velozes nesse circuito que conhecia como nenhum outro. Em 1970 pilotou a Ferrari 512 S e disputou a liderança até a última volta com os invencíveis Porsches 908/3, sempre aclamado pela torcida que dividia a pilotagem, literalmente dentro da pista, com seu ídolo local.



A série de trabalhos que iniciei na Gravura tem um pouco dessa história da Targa Florio. A técnica é a Maneira Negra, um processo que tem como primeiro passo a obtenção de um preto uniforme na impressão da matriz. Para isso utiliza-se ferramentas (como o berceaux) ou métodos abrasivos (como a granitagem com pó de carborundum) que criam condições para a tinta se instalar por toda a superfície da chapa. Depois de feitas as provas para acertar a superfície preta, o desenho é passado para a chapa e então o trabalho passa a ser com o brunidor. Essa ferramenta é como um lápis para desenhar mas na sua ponta geralmente vai uma pedra de ágata, quartzo ou ainda aço temperado. Com ele vai-se rebaixando os sulcos, marcas ou “arranhões” que retêm a tinta e dessa forma criando as áreas onde aparecerão os brancos e os meios tons da cor a ser utilizada na impressão. Ao término do “desenho” com o brunidor, uma nova prova é feita para acerto dessas áreas trabalhadas. É quase certo que um novo trabalho deve ser feito nas áreas mais claras ou nos contornos, acentuando alguns contrastes e passagens de tons. Feito isso se inicia a tiragem das cópias. Os materiais mais utilizados para matrizes na Maneira Negra são o Cobre e o Alumínio por serem mais macios e facilitarem o trabalho com berceaux e o brunidor, mas a tiragem fica limitada pela deformação da matriz sob a pressão da prensa. O Latão é mais duro de brunir, mas proporciona uma tiragem maior por ter mais resistência.



CAMPO FELIZ é o primeiro trabalho que faço no ateliê de gravura. Fiz a opção pela chapa de Latão com a granitagem por carborundum. Um trabalho razoável para brunir a chapa, mas o resultado foi satisfatório, com poucas áreas a serem retrabalhadas. Essa imagem é da primeira prova tirada e depois disso os brancos e luzes, principalmente no carro, foram acentuados. Um fato interessante é que a matriz em si já se apresenta como um bonito trabalho, variando em tons de brilho e o fosco da chapa granitada. Mais adiante colocarei uma imagem da gravura finalizada. * A granitagem é o processo de preparação para as pedras que servirão de matrizes na Lithografia.

MONOTIPIA

Dentro dos processos da gravura, a Monotipia resulta em uma cópia apenas, transposta para o papel por intermédio de um suporte entintado e um desenho feito por sobre o papel fixado nesse suporte. É possível fazer esse desenho várias vezes, mas cada uma das cópias vai ter uma imagem diferente, proporcionada pelas diversas incisões do lápis durante a transposição do desenho. Digamos que uma imagem a ser reproduzida na monotipia seja uma foto copiada em xérox. Depois da aplicação de tinta gráfica sobre o suporte (chapa metálica de preferência), apóia-se sobre ele o papel que receberá a imagem e sobre este, o papel que contem a imagem a ser reproduzida. Faz-se então o desenho acompanhando os traços e tons dessa imagem. Pela pressão aplicada, a tinta é transferida do suporte para o papel em uma imagem única. Uma outra vez que o processo for feito, mesmo com a mesma referência, o resultado será diferente. Daí o nome Monotipia. É importante salientar que a imagem referência deve ser trabalhada ao inverso. Daytona 72 – Monotipia em papel Super White – 29,7 x 21,0 cm, 2009



Daytona 312 PB foi feita primeiramente em Monotipia como um teste da imagem que posteriormente seria trabalhada na Aquarela. O resultado, nos dois casos, dá uma idéia da profundidade nos planos da imagem retirada de uma foto da Ferrari 312 PB de Jacky Ickx durante as 24 Horas de Daytona em 1972.
Daytona 312 PB 0888 ’72 – Aquarela em papel Fabriano 100 % Cotton – 37,0 x 27,0 cm, 2009.



Árvore – Monotipia em papel Super White – 29,7 x 21,0 cm, 2009. O desenho que foi feito no papel de xérox sobre o papel da Monotipia e da placa de metal entintada. O simples contato da chapa com o papel produz uma transposição da tinta nas bordas da linha feita no desenho. Por isso um maior preenchimento na imagem final.

"TÁ COM A MACACA"

Um dos trabalhos que realizei no ateliê de pintura da Escola de Belas Artes e que incluí no meu Trabalho de Conclusão de Curso foi o Bananzepan (“O trabalho que mais adquire um sentido crítico visual, dentro da sua proposta e o mais resolvido é o Banazepan...”), dedicado a todas as pessoas que, infelizmente, fazem uso dos remédios de tarja preta, seja pela necessidade, pela comodidade ou pela dependência química. É de certa forma, um alerta ao procedimento que a medicina ocidental lança mão: de remediar uma situação ao invés de buscar uma cura na origem do problema. Isso está muito bem colocado no livro Anticancer: prevenir e vencer usando nossas defesas naturais, do médico canadense David Servan-Schreiber (Editora Objetiva).

Também dedico esse trabalho aos dependentes da teoria, das regras, das imposições criadas pelo sistema acadêmico que enaltece o título e subjuga o saber fazer e a vivência no campo onde se propõe abranger um máximo de conhecimento sobre um mínimo de assunto, estreitando cada vez mais as possibilidades de entendimento por parte de uma comunidade que, na maioria dos casos, custeia os estudos desses “mestres”, “doutores”, ou “pós-doutores” que vão cada vez mais encher o seu saco de conhecimentos específicos, interessante somente ao seu currículo, num nível que poucos conseguem ter acesso. É muito comum hoje em dia esses “titulados” não terem a mínima experiência prática na sua área, tendo saído do colégio para a universidade e debruçado durante 12 anos nas teorias que irão passar aos seus discípulos.

É um trabalho de características gráficas acentuadas. A imagem de uma banana pode ser traduzida dentro da perspectiva do deboche, ou, da forma como interessar a cada um dos observadores. Toda a parte inferior, que retrata a caixa de um medicamento controlado, foi feita em cores chapadas e formas gráficas simplificadas, com aplicação dos textos em serigrafia. O “Genérico”, abrangente, foi substituído pelo “Teórico”, específico e limitado.

O interessante é o fato de toda essa “teoria” criada em torno de Bananzepan resultar exatamente na proposta da crítica. Cada um que olha a pintura tem uma interpretação. Ela própria vai se mostrando em canais diferentes de percepção e os resultados, principalmente para mim que a pintou, são surpreendentes e mostram o quanto se pode aprender com a prática.

Bananzepan foi pintada em acrílica com serigrafia vinílica, no formato 120 x 35 cm.